Por que começar agora é melhor do que esperar a “fase passar”? O papel da plasticidade cerebral na adolescência
- Redação Práticas do Ser

- 26 de ago.
- 5 min de leitura

Muitos pais acreditam que a adolescência é apenas uma “fase difícil” que vai passar com o tempo. Esse olhar pode trazer algum alívio imediato, mas também carrega um grande risco: o de deixar escapar um período único de transformação, no qual mudanças profundas acontecem no cérebro, no comportamento e nas relações sociais. Ao entender que a adolescência é uma janela de oportunidade, marcada pela plasticidade cerebral, percebemos que esperar pode custar caro — e começar agora é o que faz a diferença.
Adolescência: uma fase de transição ou uma oportunidade?
Durante décadas, a adolescência foi descrita como uma fase turbulenta, quase inevitavelmente marcada por conflitos e crises. Hoje, no entanto, a ciência mostra que esse período pode ser encarado de forma completamente diferente: como um segundo momento de grande remodelação cerebral e social, no qual as experiências e os vínculos têm um impacto duradouro. A plasticidade cerebral garante que esse seja um período não apenas de risco, mas também de possibilidade de crescimento, aprendizado e fortalecimento de habilidades socioemocionais.
Quando os pais compreendem que a adolescência não é apenas “um problema a ser suportado”, mas uma etapa de construção, a forma de se relacionar com seus filhos muda radicalmente. Em vez de aguardar passivamente, é possível intervir com presença, diálogo e estratégias conscientes, transformando potenciais dificuldades em recursos para o futuro.
Plasticidade cerebral: por que agir cedo é tão importante
A adolescência é marcada por uma intensa reorganização do cérebro, principalmente em regiões relacionadas ao controle das emoções, tomada de decisão e sensibilidade às interações sociais. Esse fenômeno, chamado de plasticidade cerebral, torna o adolescente mais aberto às influências externas — sejam elas positivas ou negativas.
Na prática, isso significa que o ambiente familiar, escolar e comunitário molda de maneira decisiva o desenvolvimento. Relações de apoio, comunicação empática e experiências saudáveis podem consolidar habilidades de autorregulação, resiliência e confiança. Por outro lado, ambientes hostis, negligência ou ciclos repetidos de conflito podem cristalizar padrões prejudiciais que acompanham o jovem até a vida adulta.
A plasticidade cerebral, portanto, é um chamado à ação: quanto mais cedo os pais e cuidadores oferecem suporte adequado, maiores as chances de consolidar trajetórias saudáveis.
Ciclos coercitivos: quando esperar só piora
Um dos riscos de “deixar a fase passar” é permitir que padrões de interação negativa entre pais e filhos se consolidem. A ciência descreve esse fenômeno como ciclos coercitivos: situações em que críticas, punições severas e explosões emocionais dos pais encontram resistência ou oposição dos filhos, criando uma espiral de hostilidade. Esse tipo de interação tende a se repetir e a se fortalecer ao longo do tempo, aumentando a probabilidade de comportamentos externalizantes, como agressividade e oposição persistente.
Intervir cedo significa quebrar esse ciclo. Estratégias baseadas em comunicação assertiva, validação emocional e estabelecimento de limites claros reduzem o reforço da coerção. Quando aplicadas durante a adolescência, aproveitando a plasticidade cerebral, essas mudanças têm maior chance de se consolidar como novos padrões de convivência familiar.
Intervenções familiares: a ciência mostra que funcionam
Diversos programas e terapias familiares mostram resultados positivos quando aplicados durante a adolescência. Abordagens como a terapia multidimensional familiar (MDFT), a terapia breve estratégica familiar (BSFT) e a terapia multissistêmica (MST) demonstram eficácia principalmente em casos de uso de substâncias e comportamentos de risco. Já modelos como a terapia baseada em apego (ABFT) oferecem ferramentas para lidar com sintomas depressivos e prevenir o suicídio.
Embora os resultados variem conforme a população estudada, o consenso é claro: quando a família participa ativamente do processo, as mudanças tendem a ser mais consistentes e duradouras. Isso acontece justamente porque a plasticidade cerebral torna os adolescentes mais receptivos às mudanças no ambiente familiar, especialmente quando envolvem afeto, limites e presença.
O custo de esperar: quando o tempo é inimigo
Adiar a busca por ajuda ou intervenção pode trazer consequências sérias. Em saúde mental, o tempo é um fator crítico. Estudos mostram, por exemplo, que quanto maior o período entre o início dos sintomas psicóticos e o início do tratamento, piores são os desfechos clínicos e funcionais. Da mesma forma, o início precoce do uso de álcool e drogas está associado a maior risco de dependência e de dificuldades acadêmicas e sociais na vida adulta.
A plasticidade cerebral torna o adolescente mais aberto ao aprendizado, mas também mais vulnerável a hábitos nocivos. Isso significa que cada ano de espera pode consolidar padrões prejudiciais que serão muito mais difíceis de modificar no futuro. Em vez de pensar que “é só uma fase”, os pais precisam compreender que o atraso no cuidado pode custar caro em termos de saúde, bem-estar e oportunidades de vida.
Fatores de proteção: o que vale mais agora
Assim como existem riscos, também há fatores de proteção poderosos que podem ser fortalecidos quando a família decide agir desde já. O vínculo familiar de confiança, a comunicação aberta e a sensação de pertencimento à escola são elementos que reduzem a probabilidade de depressão, ideação suicida e envolvimento com comportamentos de risco.
O estilo parental autoritativo — marcado pela combinação entre afeto e limites consistentes — é um dos mais estudados e associados a bons resultados na adolescência. Pais que conseguem ouvir, validar emoções e, ao mesmo tempo, oferecer estrutura e expectativas claras, ajudam seus filhos a desenvolver competências socioemocionais que serão úteis por toda a vida.
Aproveitar a plasticidade cerebral nesse momento é como investir em um solo fértil: as sementes lançadas agora têm maior probabilidade de se enraizar e dar frutos no futuro.
O que significa começar agora, na prática
“Começar agora” não significa agir de forma impulsiva ou punitiva. Pelo contrário, significa investir em estratégias que a ciência já mostrou eficazes. Entre elas:
Comunicação consciente: escutar sem interromper, validar as emoções do adolescente e buscar resolver conflitos sem escalada de hostilidade.
Monitoramento equilibrado: acompanhar de perto a vida do filho, mas sem invadir sua autonomia, estabelecendo limites claros e razoáveis.
Clima emocional saudável: reduzir críticas excessivas, cultivar momentos de afeto e reforçar comportamentos positivos.
Parceria com a escola: criar pontes de diálogo com professores e apoiar o engajamento acadêmico.
Busca de apoio profissional quando necessário: sinais de depressão, ansiedade ou uso de substâncias exigem atenção especializada, e o quanto antes, melhor.
Mitos que sustentam a espera
Ainda é comum ouvir frases como “isso é só hormônio, vai passar” ou “se eu der atenção, vou reforçar o problema”. Essas crenças ignoram o que a ciência demonstra sobre a plasticidade cerebral e sobre o poder das interações familiares. O adolescente não é apenas um ser em crise; ele está em um momento de grande potencial de desenvolvimento. A forma como os pais se posicionam pode determinar se esse potencial será transformado em resiliência ou em vulnerabilidade.
Conclusão: a urgência de começar agora
A adolescência não é apenas um período de turbulência a ser suportado, mas uma etapa de construção marcada pela plasticidade cerebral. Os vínculos familiares, as experiências emocionais e os contextos sociais têm impacto direto e duradouro na vida adulta. Esperar que a fase passe significa correr o risco de ver consolidarem-se padrões de conflito, abuso de substâncias e sofrimento psíquico. Em contrapartida, agir cedo — com presença, afeto e estratégias conscientes — amplia as chances de criar trajetórias saudáveis e fortalecer um relacionamento baseado em confiança e respeito.
Quer transformar a forma como se conecta e se comunica com seu filho? Você não precisa esperar nem enfrentar esse desafio sozinho. Com base em evidências científicas e na experiência clínica, o psicólogo Alexandre Scoz desenvolveu um método estruturado para apoiar pais que desejam aproveitar a plasticidade cerebral da adolescência e fortalecer o vínculo familiar.
👉 Participe do curso com 12 encontros mensais de mentoria ao vivo e descubra, na prática, como aplicar estratégias validadas pela ciência para construir uma relação de confiança, respeito e afeto. Comece agora a trilhar um caminho de transformação e fortaleça um relacionamento baseado em presença, compreensão e conexão verdadeira. Compartilhe este conteúdo com outros pais que também buscam um relacionamento familiar mais saudável e empático.



Comentários